terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Um pouco sobre José Lins do Rego e sua obra Fogo morto




Incendiando a obra romanesca do nordeste

José Lins do Rego Cavalcante nasceu em 3 de junho de 1901, no Engenho corredor, município de Pilar, estado da Paraíba. Filho de João do Rego Cavalcante e Amélia do Rego Cavalcante, família ligada à produção açucareira. Criou-se no engenho do avô, fato que influenciou sua obra.
Formou-se em Direito, no Recife e nessa fase da Faculdade ampliava “seus contatos com o meio literário pernambucano, tornando-se amigo de José Américo de Almeida, Osório Borba, Luiz Delgado, Aníbal Fernandes e outros. Gilberto Freire, voltando em 1923 de uma longa temporada de estudos nos Estados Unidos, marcou nova fase no espírito de José Lins”, relata Wilson Lousada.
A sua vida cotidiana influenciou bastante a sua obra. José Lins perfaz um ciclo em seus romances que ele chama de ciclo da cana de açúcar, começando com “Menino de Engenho” e encerra-se com “Usina”. Pureza foi seu primeiro romance isolado da obra cíclica, seguido de Pedra Bonita e Riacho Doce. Em 1941 produz seu primeiro livro “Água Mãe”, cujo cenário seria não mais o nordeste e sim, Cabo Frio, Rio de Janeiro. Somente em 1943, o romancista voltava ao Regionalismo Nordestino, publicando “Fogo Morto”.
Tristão de Athayde fala que o “autor desse imortal ciclo da cana de açúcar, se consagraria como o Balzac do nosso patriarcalismo morinbundo”. Ainda complementa “... a obra que é Fogo Morto, talvez a sua maior realização romanesca, e onde está inscrita, em traços indeléveis, essa figura imortal de Dom Quixote sertanejo, o Capitão Vitorino Carneiro da Cunha, por alcunha o Papa-Rabo, seguramente uma das mais acabadas figuras de nosso romanceiro nacional.
Fogo Morto é considerado pela crítica como a “obra prima de José Lins do rego”, um dos grandes presentes para a literatura regionalista do nordeste. Mário de Andrade chegou a exclamar “E que obra prima, Fogo Morto”! Esse romance que faz parte do ciclo da cana de açúcar gira em torno do engenho de Santa Fé, desde a sua fundação e ascensão até sua decadência, quando o engenho é transformado em “fogo morto” ,ou seja, desativado. Este agrupa uma série de personagens, que já haviam aparecido em outros romances do autor.
O romance, que devido à descrição da vida social e psicológica dos engenhos da Paraíba pode ser aproximado aos romances realistas, tem também várias características do Modernismo, dentre as quais se destaca: a linguagem cotidiana, ou seja, o autor procura aproximar o seu texto da linguagem falada.
Fogo Morto é dividido em três partes, cada uma com o foco em um protagonista diferente, mas que, no entanto suas histórias se se entrecruzam:
A primeira parte enfoca principalmente a figura de um velho seleiro frustrado - O Mestre José Amaro; “homem valente que viera de Goiânia com uma morte nas costas”. Devido às suas saídas à noite, ganha fama de lobisomem. Poe a culpa de toda a sua infelicidade na sua mulher, Sinhá, e na loucura de sua filha Martas. A mulher o abandona, a filha é levada para a Tamarineira. Por ajudar os cangaceiros de Antonio Silvino é preso, apanha e é humilhado. Não agüentando a solidão, suicida-se.
A segunda parte faz uma retrospectiva de como era o Santa Fé na época de seu primeiro dono - Seu Tomás, até ficar nas mãos de Lula de Holanda Chacon. Homem calado, doentiamente orgulhoso, não soube fazer prosperar o Engenho Santa Fé que recebera de herança, levando-o a fogo morto, expressão que designa o engenho que parou de produzir. É acompanhado de sua filha solteirona, por sua mulher Amélia e sua cunhada alienada.
A terceira parte está a mais importante criação dentre os romances de José Lins do Rego. É a figura do capitão Vitorino, um idealista e sonhador. Compadre do Mestre José Amaro que o depreciava, apontando-o como cachorro sem dono correndo atrás dos poderosos. Até a segunda parte era motivo de escárnio, mas é na terceira parte que ele é visto como uma espécie de Dom Quixote, homem valente lutando pelos seus ideais em defesa dos mais humildes contra os poderosos. Gradativamente, é reconhecido pelos que o cercam, mas, paradoxalmente, vai também perdendo o gosto pela vida abandonando a luta por seus ideais.
Fogo Morto é um repositório de personagens arraigados de costumes de uma época. É o retrato de uma geração de homens e mulheres ligados ao mundo rural do nordeste açucareiro, às senzalas e aos negros. O autor reflete todo esse mundo do patriarcalismo rural em sua obra, este livro pungente é de realidade profunda, um espelho de uma sociedade patriarcal em decadência, com suas inúmeras tragédias e misérias humanas.
É a própria consciência do autor que está presente no livro. Consciência literária da casa grande e da senzala, dos senhores de engenho, dos negros. É a expressão literária da cultura da sua terra.

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