terça-feira, 30 de junho de 2009

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Biografia





Fabiana da Paz dos Santos nascida em 27 de setembro de 1981 Itaquera São Paulo. Aos 3 anos vai para a Bahia com seus pais. Mais precisamente para Canavieiras, interior da cidade de Campo Formoso. Filha de Maria da Paz dos Santos e Antonio dos Santos, irmã de Luciana da Paz, Tatiana da Paz e Tiago Henrique.

Lá em Canavieiras morava próximo ao avô e bisavô maternos, tios e primos. Desde criança seus pais a incentivaram a leitura, presenteado-a com revistas em quadrinhos e cordéis, os quais colecionava.

Conviveu com muitos primos e tios que tinham quase a mesma faixa etária. Com eles brincava sempre. As brincadeiras que mais gostava eram de esconde-esconde, amarelinha, pular corda e escolinha, onde sempre queria ser a professora.

Aos 5 anos de idade foi para a primeira escola, onde aprendeu a ler e escrever. Mais tarde foi estudar na cidade de Campo Formoso, no Colégio José Barreto Filho e depois no Colégio José de Anchieta. Neste último estudou até a 4ª série.

Aos 12 anos foi para o colégio Nossa Senhora de Fátima, colégio de Freiras, no qual estudou até concluir o ensino médio, ou melhor, o magistério.

Católica fervorosa, sua vida foi marcada por muita religiosidade. Fazia parte de um grupo de jovens chamado Jufra, juventude franciscana, do qual participou por muitos anos. E esta religiosidade foi indispensável na formação do seu caráter.

Com os pais separados passou muitas dificuldades. Começou a trabalhar cedo para pagar o colégio que estudava e depois para ajudar nas despesas de casa. Nesta época sua mãe foi um sustentáculo para ela. Esta trabalhou muito para ajudá-la na sua formação. Quando concluiu o magistério não pode exercê-lo de imediato. Trabalhou antes em uma loja de tecidos, depois num consultório odontológico e ainda em um armarinho. Neste último, trabalhou até ser chamada para lecionar, pois em dezembro de 2001 foi aprovada no concurso público, promovido pela Prefeitura Municipal de Campo Formoso.

As coisas então começaram a melhorar para ela e família. Foi assim trabalhar a quase 100km de distância no interior da cidade, em um povoado chamado Pacuí. Lecionou por um ano e passando no vestibular vai para o povoado de Tiquara, a 28 km da cidade onde lecionou por 6 anos. Começou a cursar Letras na Faculdade de Formação de Professores de Petrolina em Pernambuco em 2003.

Não foi fácil. Saía da cidade às 6:40 hs da manhã todos os dias para trabalhar em Tiquara,. Chegava às 13:00 hs e às 16:30 hs saía em direção a Petrolina, situada a 150 km de Campo Formoso. As aulas terminavam às 22:00 hs e saía de lá mais um pequeno grupo de estudantes às 22:10 hs e chegavam às 12: 45 hs da madrugada. E assim aconteceu por 4 longos anos. Concluiu o curso de Letras e suas literaturas em dezembro de 2006. Em 2009 sai da sala de aula para supervisionar um projeto de teatro “Seguindo os passos da arte” aprovado pelo governo do estado, convidada por sua ex diretora do colégio de Tiquara, Irenilda Galvão, atual diretora do grupo de Teatro, o Grupo Culturart. Este aprovado como um novo Ponto de Cultura da Bahia. Logo depois convidada pela chefe de departamento do Ensino Fundamental, Leila Amaral, vai para Salvador em fevereiro de 2009 para uma formação do Programa de gestão da aprendizagem, o Gestar. Do qual é formadora de Língua portuguesa, junto com as companheiras Cristiane Cruz também de Língua portuguesa e Eliene Bispo de Matemática.

Uma Crônica



Eu sei que a gente se acostuma, mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamento de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E porque à medida que se acostuma esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã, sobressaltado porque está na hora. A tomar café correndo porque está atrasado. A ler jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíches porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e a dormir pesado sem ter vivido o dia. A gente se acostuma a abrir a janela e a ler sobre a guerra. E aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz.

E aceitando as negociações de paz, aceita ler todo dia de guerra, dos números, da longa duração. A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto. A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que paga. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagará mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com o que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes, a abrir as revistas e a ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema, a engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos. A gente se acostuma à poluição. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às besteiras das músicas, às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À luta. À lenta morte dos rios. E se acostuma a não ouvir passarinhos, a não colher frutas do pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber. Vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente se senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente só molha os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer, a gente vai dormir cedo e ainda satisfeito porque tem sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se da faca e da baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, de tanto acostumar, se perde de si mesma.


Marina Colasanti